Monday, December 06, 2004

Sagitário ou o mito de Quíron


centauro Posted by Hello

Tirei daqui:
Quiron era um centauro. Um centauro que fazia o bem, que era amigo dos homens, o que o distinguia dos demais. Um dia os centauros travaram tremenda luta com Héracles e este, acidentalmente, feriu Quíron com uma flecha. E Quíron era amigo de Héracles e Héracles era amigo de Quiron. Vãos foram todos os esforços para aplacar a dor do ferimento - pois incurável era o ferimento que uma flecha de Héracles provocava. E Quíron, pobre Quíron, sofria dores terríveis, tão terríveis que passou a desejar ardentemente a morte. Mas Quíron, o bom centauro, era imortal.
Centauros eram animais mitológicos, metade cavalo, metade homem. Viviam livres nos montes alimentando-se de carne crua. Sua metade equina significava tanto quanto a outra , a humana - daí a estranha brutalidade do zooantropomórfico monstro. Embriagavam-se com frequência e raptavam mulheres. Sua metade humana - o tronco, os braços e a cabeça - brotavam do cavalo como uma flor no jarro. Na maioria das vezes o cavalo vencia: vencia a metade ausente do homem. Eram monstros hediondos e anti-socais, raptavam noivas e esposas, careciam ser exterminados. Mas Quíron era um bom centauro; amigo dos homens, ensinava-lhes música e moral. Acidentalmente o ferira Héracles, seu amigo. E sofria dores atrozes e desejava morrer. Mas Quíron, o bom centauro era imortal.
O cavalo, companheiro histórico do homem, foi por excelência o meio de transporte. Poder-se-ia naturalmente associar a invenção do centauro ao ideal estratégico do cavaleiro perfeito, do autocavaleiro - do homem a cavalgar-se. Mas um centauro é muito mais profundo: é a luta do homem com suas vísceras. Ou, mais suscintamente, a batalha do cérebro contra os testículos.
Quíron era um bom centauro - médico, poeta, moralista. Ferido imortalmente, ardia de desejos por morrer. Mas não podia. Em todo ser as duas forças básicas, razão e instinto, só se harmonizam com a supressão de uma ou a sublimação das duas. Quíron, um moralista por certo dominara o ímpeto do quadrúpede. Fadado à sociedade - foi professor de Aquiles, de Asclépio e mesmo de Apolo - recebeu dela os aplausos: consideravam-no sábio. Mas uma dor enorme o abatia. Dias a fio, eternidade a fora, a carregar o sofrimento físico.
Uma noite, olhando uma constelação da Via Láctea, pensou na sua vida. Remorsos afloraram-lhes aos olhos, os lábios contorceram-se num soluço: que uma dor maior se avizinhavam. E Quíron disse: "Se a dor, essa terrível dor, o permitisse, desmancharia tudo o que já fiz, renegaria tudo o que ensinei. Pois a verdade, só agora a descobri." E, então, chorou. E desejou morrer, Quíron, o centauro mas não podia. Morrer, para um imortal, só era exequível havendo alguém que arcasse com a imortalidade. Conta-se o mito que o herói Prometeu, nascido um mortal e não querendo sê-lo, cedeu a Quíron o seu direito à morte. Quíron, enfim liberto, foi habitar no céu sob a forma da grande constelação de Sagitário.

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